quarta-feira, 4 de março de 2015

Frutificar naquele que nos foi dado na plenitude dos tempos, Evangelho segundo S. Mateus 21,33-43.45-46.

Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Ouvi outra parábola: Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e levantou uma torre; depois arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. 
Quando chegou a época das colheitas, mandou os seus servos aos vinhateiros para receber os frutos. 
Os vinhateiros, porém, lançando mão dos servos, espancaram um, mataram outro e a outro apedrejaram-no. 
Tornou ele a mandar outros servos, em maior número que os primeiros, e eles trataram-nos do mesmo modo. 
Por fim mandou-lhes o seu próprio filho, pensando: ‘Irão respeitar o meu filho’. 
Mas os vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; vamos matá-lo e ficaremos com a sua herança’. 
Agarraram-no, levaram-no para fora da vinha e mataram-no. 
Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?» 
Os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo responderam-Lhe: «Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entreguem os frutos a seu tempo». 
Disse-lhes Jesus: «Nunca lestes na Escritura: ‘A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular; tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos’? 
Por isso vos digo: Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos». 
Ao ouvirem as parábolas de Jesus, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus compreenderam que falava deles 
e queriam prendê-l’O; mas tiveram medo do povo, que O considerava profeta.

Evangelho comentou, 

«O meu amado é um cacho de uvas de Chipre entre as vinhas de Engadi» (Ct 1,14). […] Este cacho divino cobre-se de flores antes da Paixão e derrama o seu vinho na Paixão. […] Na videira, o cacho não tem sempre a mesma forma, muda com o tempo: floresce, incha e, depois de estar perfeitamente maduro, vai-se transformar em vinho. A videira promete, pois, pelo seu fruto: ainda não está maduro e no ponto para dar vinho, mas espera a plenitude dos tempos. No entanto, não é absolutamente incapaz de nos alegrar. Com efeito, já antes do sabor, encanta o olfacto na espera de bens futuros, e seduz os sentidos da alma pelos aromas da esperança. Porque a garantia da graça esperada torna-se já alegria para os que esperam com constância. Assim é a uva de Chipre que promete o vinho antes de o ser: pela sua flor – a sua flor é a esperança –, dá-nos a garantia da graça futura. […] 

Aquele cuja vontade está em harmonia com a do Senhor, porque «a medita dia e noite», torna-se «uma árvore plantada à beira de um riacho, que dá fruto na estação própria, e cuja folha não morre» (Sl 1,1-3). É por isso que a videira do Esposo, que criou raízes no solo fértil de Engadi, isto é, no fundo da alma que é regada e enriquecida pelos ensinamentos divinos, produz este cacho rico e cheio, no qual pode contemplar o seu próprio jardineiro e o seu enólogo. Bem-aventurada esta terra cultivada, cuja flor reproduz a beleza do Esposo! Uma vez que este é a luz verdadeira, a vida verdadeira e a verdadeira justiça […], e também muitas outras virtudes, se alguém, por suas obras, se assemelha ao Esposo, quando olha para o cacho da sua própria consciência, vê o próprio Esposo, porque reflecte a luz da verdade numa vida luminosa e imaculada. Foi por isso que esta videira fecunda disse: «A minha vinha floresce, os botões estão a abrir» (cf Ct 7,13). O Esposo, que é esta verdadeira vinha em pessoa, aparece amarrado ao lenho, e o seu sangue tornou-se bebida de salvação para os que exultam na sua redenção.